domingo, 27 de abril de 2008



ERA MEU O TEU AMOR?

Era?

“Eras”.

Hoje enfim compreendo.

Tanto eu tentei.

Entender.

Por que precisei passar pelo sofrer?

Por que perder?

Hoje vejo que tudo tem uma razão de ser.

Tive teu amor?

Todo? Pleno?

Hoje encaro tudo de olhar sereno.

Não foi meu o teu amor.

Quem ama não promove tanta dor.


Sonia Delsin

terça-feira, 8 de abril de 2008



DIA REINVENTADO

Era preciso que aquele dia morresse.

Que fosse sepultado.

Era preciso um outro dia.

Um dia reinventado.

Dizer que o pecador se arrependeu do pecado.

Que foi mal amado.

Que teve um sonho.

Ah, coitado!

Devem ser demolidas as pontes do passado.

Deve aquele dia ficar morto, enterrado.

O brilho do novo enleva o dia morto.

E tudo fica em paz.

Pra que chorar ainda mais?


Sonia Delsin

segunda-feira, 7 de abril de 2008




AMORES QUE VEM, AMORES QUE VÃO

Amores que vem,

amores que vão.

Coisas do coração.

Amores que vem.

Quanta ilusão!

Dor, decepção.

Amores que vão.

Castelo espatifado no chão.

Pro céu estendida uma mão...

Amores que vem...

Amores que vão.


Sonia Delsin

quinta-feira, 3 de abril de 2008


POEIRA CÓSMICA

A barba dele alcançava a ponta do externo.

Já nem era mais branca de tão encardida.

Ele tinha uns olhos guardados numa caixinha de rugas como nunca vi igual na vida.

Tão plissada a pele que quase nem se via mais o negro da íris.

Mas existia e eu via.

Algumas verrugas no rosto e braços.

Ele trazia na boca um riso que nascera e morrera ali.

Era mais uma contração.

Mas eu queria acreditar que era um leve sorriso estagnado em sua face incinerada pelo sol ardente.

As cestas de lixo que se distribuíam pela pracinha ele não deixava de observar uma sequer.

O que encontrava comia.

Eu o vi certa vez a comer um restinho de iogurte com colher.

Ele remexia, comia.

Restinhos de refrigerante bebia.

Depois se sentava num banco qualquer.

Arrotava como se tivesse se deliciado com uma bela refeição.

Vi isto em cima deste chão.

E embaixo deste céu de meu Deus.

Que somos? Poeira cósmica?

Somos pó?

Tento encontrar o fio da meada e encontro um nó.

A refletir me coloco.

Me desloco.

Que somos perante o Universo?

O que somos nós?

sonia delsin